Natal com borboletas, grilos e trilhas
por Carlota Cafiero e Clauio Vitor Vaz
Passar o Natal na floresta, somente nós três, dentro de um lodge quentinho e confortável, com a Lua Cheia reinando lá fora, foi uma experiência muito gostosa, principalmente por causa da deliciosa ceia que encomendamos no restaurante Dona Chica, um dos destaques gastronômicos do parque.
Comandado pelo chef Anderson Oliveira, o empreendimento reinventa pratos com insumos de produtores locais e ingredientes colhidos numa horta, cultivada ao lado do restaurante – e que pode ser visitada pelos frequentadores do parque.
Entre as opções para ceia de Natal, escolhemos o galeto assado, feito com alecrim, cebola rocha, milho, batata doce preparados na brasa. Os acompanhamentos foram arroz com passas, maionese de cebola roxa e farofa de pinhão. Tudo muito saboroso e saudável, servindo bem dois adultos e uma criança.
Dona Chica também atende aos hóspedes do Aventoriba Lodge, com um menu especial, como sopas e fondues. A proposta de Oliveira, de utilizar ingredientes da Serra da Mantiqueira, deu tão certo que rendeu a segunda unidade do restaurante, há um ano, dentro de uma estufa de hortaliças, grãos e legumes, no Bairro dos Mellos – para o qual fomos convidados a conhecer (leia AQUI).
Voltando à nossa noite de Natal, jantamos na paz total, ao som de grilos e sapos, sob a Lua Cheia. Na madrugada, o luar cedeu lugar a nuvens carregadas, e uma chuva gostosa cobriu os sons da floresta. Voltando à nossa noite de Natal, jantamos na paz total, ao som de grilos e sapos, sob a Lua Cheia. Na madrugada, o luar cedeu lugar a nuvens carregadas, e uma chuva gostosa cobriu os sons da floresta.
Depois que Maria Paula dormiu, arrumamos os presentes na mesa da ceia, com algumas pinhas ao redor dos pacotes, e aproveitamos uma meia natalina, instalada na porta do lodge, para inserir outro presentinho ali. Papai acordou Maria na fria madrugada, para abrir os presentes, sob a meia-luz de uma luminária. Foi mágico.
Na manhã seguinte, feriado, o parque ficou fechado, e era todo nosso – e de mais duas famílias que se hospedavam no Aventoriba. Decidimos nos aventurar em algumas trilhas do parque.
Trilha Monteiro Lobato
Começamos pela mais fácil e acessível para crianças pequenas, a Trilha do Monteiro Lobato, com apenas 250 metros, que leva a um parquinho. A entrada fica perto de uma floresta de pinheiros do brejo, onde corre um veio d’água com monjolinho.
Trilha da Cachoeira
Depois, exploramos uma trilha mais longa, a da Cachoeira, uma caminhada leve, com 4,6 quilômetros de ida e volta, sob aprazíveis 20 graus. Após uma caminhada de uma hora, com um chão de borboletas e um abraço numa araucária centenária, nos refrescamos no poço formado pela Cachoeira da Galharada, de fácil acesso para crianças. Levamos cerca de uma hora e meia para percorrer toda a trilha, que também pode ser feita de bicicleta.
Durante a caminhada, sob um sol agradável e uma brisa fresca, Maria se preocupava em não pisar nas borboletas amarelas, que forravam o chão em alguns pontos da trilha. Vez ou outra, uma borboletinha pousava na mão de Maria e pegava uma carona por alguns minutos. Uma alegria simples, mas rara, para uma criança da cidade.
Uma placa avisava sobre a existência de uma araucária com mais de cem anos, perto da trilha. Aproveitamos para dar um abraço e sentir a energia que sobe por aquele tronco acima, com pelo menos uns 30 metros de altura. O tempo de vida médio dessa espécie de árvore é de 350 a 450 anos. Também chamada de pinheiro, a araucária dá a pinha ou o pinhão, iguaria da culinária da Serra da Mantiqueira, de onde muitas famílias tiram o sustento. Uma curiosidade: em Campos do Jordão, as araucárias são protegidas por lei, e o pinhão não pode ser coletado diretamente da árvore, apenas aqueles que caem no chão.
Ali no Parque, a floresta de araucárias deve muitos agradecimentos a algumas espécies dispersoras de suas sementes, como é o caso do papagaio-do-peito-roxo, espécie de ave que ajuda a disseminar o pinhão pelo terreno do horto. Sua contribuição para a disseminação das sementes é reconhecida e homenageada pelos responsáveis pelo parque, que encomendaram até uma escultura da ave em um tronco que também tem a função de trono, na qual o visitante pode se sentar para tirar fotos.
A chegada à cachoeira foi celebrada com um mergulho em suas águas gélidas e revigorantes, e o descanso contemplativo de sua pequena queda, rodeada da mata fechada.
Trilha das Quatro Pontes
Outra trilha tranquila para percorrer com crianças é a das Quatro Pontes, com 1 1 km de percurso plano, e quatro pontes sobre o rio Sapucaí – duas de madeira e duas do tipo pênsil. O caminho margeia a Avenida Pedro Paulo, que dá acesso ao parque, passa por um lago de vitórias-régias e, claro, muitos pinheiros do brejo, araucárias, samambaias, bromélias e outras espécies da flora.
A emoção fica por conta das duas pontes pênsil, que balançam um pouco durante a travessia, e são vazadas – recomenda-se segurar as crianças por um braço, enquanto o adulto se equilibra se apoiando na lateral de aço da ponte, que é bastante segura, mas, com criança, não se pode bobear. No dia em que a percorremos, havia chovido muito de noite, e a vazão do rio ainda estava grande, com cor barrenta.
O tempo médio para percorrê-la é de 40 minutos, ida e volta. Também indicada para idosos, desde que não sofra de vertigem.
Trilha do Rio Sapucaí
A terceira e última trilha que encaramos no feriado de Natal foi a do Rio Sapucaí – um poderoso curso d’água que corta o horto e abastece Campos do Jordão. Com nível de dificuldade intermediário, o caminhante deve se preparar para uma elevação de 100 metros, que leva a um mirante para o vale do rio e floresta de Araucárias, a 1,7 mil metros de altitude.
O início da trilha fica na área de descanso do parque, atrás do food truck da Dona Chica. Ali, encontramos uma plaquinha avisando sobre um animal que abunda a floresta e com o qual precisamos ter o maior respeito e distância. Há duas espécies comuns no horto: a urutu (peçonhenta) e a cobra-espada (cujo veneno não causa estrago).
Ficamos bastante atentos a qualquer movimentação estranha nas partes mais fechadas da trilha, e, para percorrê-la, tivemos a companhia e proteção de um anjinho peludo, a cadela Rúbia (que Maria batizou de “Chica”, pois, até então, não sabíamos a graça dela). Por uma hora e vinte minutos, Rúbia foi à frente, latiu, fuçou o mato, sumiu, voltou, sempre com um “sorriso” na cara. Ainda bem que tínhamos um pote, com o qual compartilhamos nossa água com ela – até o nosso lanchinho de presunto e queijo ela saboreou.
Rúbia voltou com a gente para o parque e com a gente ficou por um dia inteiro. Fomos avisados de que a cadela costuma ficar na cervejaria Gård, junto com outros cães da Fazenda Gravatá (que faz parte do horto), e que é proibido pets no parque, mas, fazer o quê, se foi a simpática Rúbia que nos adotou?
Outras duas trilhas do horto são:
Trilha dos Campos – Nível intermediário, cerca de 3 km, com elevação de 150 metros de altura, diversos mirantes com vista para o parque. Tempo de percurso: 1h20.
Trilha da Celestina – Nível difícil, com cerca de 8,5 km, com muitas subidas, vegetação densa. E campos de altitude, chegando a 1.907 km, de onde se vê a Pedra do Baú. Feita somente com guias ou monitores do Horto Florestal.