Segredos e cânions na Chapada dos Veadeiros

Viagens dos papais #1 – Chapada dos Veadeiros, 2012, por Claudio Vitor Vaz

Além do Vale da Lua, há outras cachoeiras banhadas pela bacia do São Miguel, como a cachoeira do Lageado, para adultos, e Lageadinho, para crianças, no lote do senhor Cecílio Araujo, que serve pastel e caldo de cana nos meses de seca.

Cachoeira do Lageado, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Fotos: Claudio Vitor Vaz

Mais à frente, seu sobrinho, José Martins Araujo, administra o lote do Vale das Pedras, com piscinas naturais para a criançada e gastronomia local com peixes da região durante todo o ano. As piscinas, cânions e cachoeiras da Morada do Sol ficam só mais alguns quilômetros do Vale do Santuário do Raizama, sentido Colinas.

O nome lembra tranquilidade, e paz não falta neste lugar: são piscinas de fácil acesso e de águas cristalinas, boas para o banho e o passeio em família. Uma das atrações mais procuradas na Morada do Sol não está perto das águas, mas sim, fora. É o restaurante Morada do Sol, da senhora Cleusa, que faz a comida caseira mais cobiçada da estrada GO-239. Mas atenção que os almoços só são feitos sob encomenda. Vale à pena chegar mais cedo e encomendar um prato tipicamente goiano.

Também abrangidas pela bacia do rio São Miguel são as piscinas e outras atrações naturais do Santuário do Raizama, propriedade do artista João Fernandes, que realiza periodicamente em seu lote vários eventos culturais durante o ano. João Fernandes é um apaixonado pela música e pela fotografia, uma figura impar em São Jorge. Antes de visitar o Santuário do Raizama nos meses de chuva, vale consultá-lo sobre as condições do rio para o banho dos pequeninos.

Apesar de atarefado com os projetos em seu lote, que incluem um jardim para o cultivo de plantas do cerrado e um palco suspenso para apresentações artísticas de todos os gêneros. João também está ali para conversar, e revela um pouco sobre a história de fim do mundo. “O mundo pode até terminar no dia 21, mas num sentido mais figurado. Para mim é o término de um ciclo, no qual a humanidade precisa parar para refletir sobre a maneira como lida com a natureza e com ela mesma”, explica João Fernandes, antes de voltar aos trabalhos dos seus projetos que provavelmente só estarão prontos em 2013.

João Fernandes também é proprietário de outras terras fora do parque, como o lote da Cachoeira do Abismo, uma queda d´água que não deixa nada a desejar às outras atrações dentro do Parque Nacional. Localizada no meio de uma descida de morro, a Cachoeira do Abismo encanta pela cor dourada e suas águas transparentes.

Na descida que leva à Cachoeira do Abismo está a trilha para outra atração de tirar o fôlego, o mirante conhecido como as Janelas da Chapada. Das Janelas é possível se posicionar num dos poucos pontos da Chapada onde se pode ter uma visão tão ampla da parte frontal do Parque. Dali é possível ver e escutar ao longe os Saltos de 120 e 80 metros. Definitivamente é uma caminhada de tirar o fôlego, mas acreditem, ainda sobra um pouco para sentar e apreciar a paisagem.

O Segredo do rio

O Segredo sempre este ali, mas ninguém sabia onde ficava, principalmente os garimpeiros da metade do século passado, que cobiçavam as pedras preciosas escondidas naquela região. O guardião deste Segredo chama-se Vitório Simões, ou senhor Vitorino, como é conhecido na vila. Legitimo proprietário das terras ao lado da fazenda do Silêncio, o ex-garimpeiro e também motorista de Brejo Velho, Bahia só pôde falar abertamente sobre o Segredo a partir do ano de 2002.

“No início da década de 50 passei a viver naquelas terras a pedido do antigo proprietário. Com o passar do tempo, o antigo proprietário entregou as terras para mim e para o meu irmão, e passamos a viver ali até a família crescer, mas não podíamos explorar nada até ganharmos na justiça o que era nosso por direito”, lembra o senhor Vitorino, na varanda da casa da sua família, em São Jorge. Em 2002, o senhor Vitorino conseguiu na justiça a posse definitiva das terras que estavam sendo cogitadas por grileiros locais, e passou então a prepará-la para os visitantes da Chapada.

Hoje, a região da fazenda do Segredo continua sendo cobiçada, mas não por garimpeiros, e sim por visitantes. São 16 km que separam a Vila de São Jorge da entrada da Fazenda, e mais alguns quilômetros de trilha até o segredo mais bem guardado da Chapada dos Veadeiros, a Cachoeira do Segredo.

A trilha em si é um espetáculo à parte. Pelo caminho são 14 travessias de córregos e muita natureza. Só desta vez, foram vistos bem de perto tamanduás, saguis e um enorme camaleão a passear como se a presença do ser humano fizesse parte da paisagem. Os chuviscos de água gelada soprados para fora da lagoa formada pela majestosa cachoeira de 70 metros de altura acusam ainda ao longe a presença desta verdadeira joia da natureza, Algumas horas ali a contemplá-la são o suficiente para valer a caminhada de 9 km de ida, e mais 6 km para voltar à estrada que leva a São Jorge.

O rio Preto

Cachoeira do Segredo,
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
Fotos: Claudio Vitor Vaz

São Jorge é a a vila mais próxima da entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma área protegida com cerca de 65 mil hectares, incluída em 2001 na lista da UNESCO de Patrimônios da Humanidade. No parque, podemos conhecer as suas principais atrações como os saltos de 120  e 80 metros, além de uma paisagem própria da região, com seus paredões avermelhados de rocha, cachoeiras, cânions e piscinas naturais.
Por anos, o acesso ao Parque só era feito com a companhia de guias, condutores especializados nos caminhos, em primeiros-socorros e nas alterações das águas do Rio Preto.

Foi assim até surgirem novas regras para a visitação, que incluem o passeio sem a obrigação do acompanhamento de um guia condutor.

“Nenhum parque no mundo exige o acompanhamento de guias, queremos trazer esta realidade para o Parque da Chapada dos Veadeiros”, declara José Fernando Rebelo, chefe substituto do Parque. Biólogo de formação, José Rebelo ressalta que a instituição que cuida do Parque Nacional, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), só começará a aplicar as novas regras quando todos os caminhos dentro do Parque estiverem devidamente sinalizados.