Para lavar a alma – Camping Zé Roque – Joanópolis – SP
por Carlota Cafiero e Claudio Vitor Vaz
Na beira do rio, as águas lavam as pedras, os pés, os pensamentos e a alma. Foi essa a sensação que tivemos por uma semana no camping do Zé Roque, na cidade de Joanópolis (SP), conhecida como a “terra do Lobisomem”. Chegamos numa segunda-feira de julho, com o camping esvaziado depois do fim de semana.
Com mais espaço livre, pudemos escolher o lugar perfeito para montar a barraca, que proporcionasse um contato direto com a natureza, um pouco de privacidade e conforto (leia-se “perto do banheiro”).
Depois do chek-in com Cristina, a Cris – que mistura simpatia e pulso firme na condução do camping – descemos até o rio que escorre da Cachoeira dos Pretos, a segunda maior queda d’água do estado de São Paulo, com 154 metros, o cartão-postal da cidade.
Montamos a barraca onde o rio fazia a curva e era mais ruidoso. O som das águas virou nossa trilha sonora por sete dias e seis noites. Não por acaso, lavamos umas “roupas sujas” ali, o que colocou a família toda em sintonia. Afinal, na correria do dia a dia, nós nos desencontramos, e o camping é uma boa oportunidade a voltarmos a nos “olhar” melhor, por dentro e por fora.
Maria Paula, agora com 7 anos, que acampa com a gente desde bebê, se sentiu em casa. Tratou de botar os pés na grama, na água, na lama e ser criança feliz. Com provisões compradas num mercado no Centro da cidade, não arredamos mais os pés dali. Papai Claudio montou duas redes, uma sobre o rio, e outra na frente da barraca, que virou o balanço da Maria e da nova amiguinha, Isabela, de Osasco.
As duas sumiam da nossa vista por algumas vezes. Apesar de o camping ser um ambiente bem familiar, batia aquela preocupação citadina, e nós corríamos pelos verdes campos atrás das duas, que estavam ora cheias de lama, ora perseguindo os animais, em especial a gatinha da Cris.
A diversão predileta das famílias são as duas piscinas aquecidas, uma infantil. Maria sabe nadar e não perdia uma tarde fria para se esquentar na piscina adulta, que parecia uma banheira gigante com água de caldeira, aquecida o dia todo com madeira de reflorestamento – ideia de dona Sebastiana, mãe do fundador do camping, de quem já logo voltamos a falar.
Perto da hora do almoço, era um prazer enorme preparar a refeição na cozinha coletiva, um pouco distante da nossa casa no rio, mas que vale a distância pela vista das janelas para a Cachoeira dos Pretos e as montanhas verdinhas da Mantiqueira cortando o céu azul, com vaquinhas e cavalos pastando solenes no meu jardim, quer dizer, no jardim do camping.
E a comida saía cheirosa do fogão industrial, embalada por um papo legal com algum campista dando sopa por ali – no sentido figurado, apesar de que partilhar alimentos é um costume em acampamentos.
Numa noite, um campista convidou as crianças para assar marshmallows na fogueira. Claro que os adultos foram também, carregando suas cervejas, taças de vinho ou um chazinho – jeito carinhoso de um casal de campistas (os pais da Isabela, a amiguinha inseparável da Maria) se referir à cachacinha artesanal, feita no alambique São Pedro, ali pertinho. O papo correu animado, as crianças também, e todo mundo foi dormir quando o vento gelado chegou “de bico”.