Da cerveja artesanal à fondue em Campos do Jordão

100A Viagem Intergalática dos Caras de Malte, Campos do Jordão. Foto: Claudio Vitor Vaz

Empreendimentos em Campos do Jordão, especialmente na área gastronômica, partem da iniciativa de empresários experientes, muitos vindos de São Paulo. É o caso da microcervejaria Caras de Malte, comandada por sete amigos e empreendedores, que possuem outros negócios e profissões, mas decidiram investir na paixão em comum pela cerveja artesanal.

Conhecemos o local logo após a visita ao projeto Mãostiqueiras. Bastou atravessarmos a Avenida Av. Pedro Paulo, número 1.500, que dá acesso ao Parque Horto Florestal. Com um amplo salão central, com lareira, e um deque com aquecedores, o local voltou a atender, após cinco meses fechado, com distanciamento entre as mesas e garçons usando máscaras e higienizando as mesas assim que desocupavam.

Quem nos recebeu foi o maitre Claudio Américo da Silva Junior, que nos apresentou o processo de produção dos nove tipos de cerveja oferecidos pela casa. “Todos os insumos são importados, alguns vêm da República Tcheca, outros, dos EUA”, explica. A água vem da fonte Nossa Senhora das Graças, no mesmo bairro da cervejaria, Descansópolis.

Provamos os oito tipos de cerveja, oferecidas num jogo americano com explicações de cada uma, sob o titulo Viagem Intergalática, sendo que cada sabor foi batizado com um nome sugestivo: Antimatéria, Radioativa, Nebulosa e outros, e entre as mais saborosas estava a Buraco Negro, que remete ao sabor do chocolate. As bebidas foram acompanhadas de palitos de polenta com ragu suíno de iscas de truta. O nome do negócio, Caras de Malte, brinca com a expressão de que os homens são de Marte.

Moringa

Bolinhos de Javaporco, restaurante Moringa, Campos de Jordão. Foto: Claudio Vitor Vaz

Outro negócio do empresário Anderson Cesar Oliveira – dono do restaurante Dona Chica, no Horto Florestal –, o restaurante Moringa Mantiqueira abriu há pouco mais de um ano, na Avenida Emílio Ribas, 478, no famoso bairro Capivari, seguindo o mesmo preceito de oferecer pratos com produtos típicos da Serra da Mantiqueira, como truta, pinhão, javaporco (cruzamento de javali com porco) e tomate de árvore (tamarilho). Uma curiosidade é que, no restaurante, a água é de graça, servida em moringas de barro (leia sobre isso mais abaixo).

Os pratos são servidos em recipientes rústicos, como pratos em pedra sabão e rodelas de tronco de árvore. Provamos a entrada com cochinhas, torresmos e bolinhos de javaporco (de comer de joelhos!), e pratos como trutas, picadinho de carne com cogumelos e abobrinha, além da cerveja e da caipirosca de tamarilho (muito refrescantes).

Anderson Cesar Oliveira, que comanda o Mantiqueira Moringa, ao lado de outro sócio, comemora a retomada de Campos para o turismo: “A abertura nos trouxe um grande alívio, sabemos da responsabilidade em função da pandemia, mas tínhamos a necessidade de voltarmos a funcionar, pois o grupo (Dona Chica e Moringa) possui quase 40 funcionários. Estava muito difícil, mas conseguimos manter toda a equipe durante todo o esse período de cinco meses com as duas casas fechadas”.

O empresário notou que as pessoas que estão visitando a cidade durante a reabertura estavam necessitadas de sair: “Revimos um público que há muito tempo não vinha, inclusive da Baixada Santista, pois, além do paulistano, o santista é um dos públicos que mais tem frequentado Campos do Jordão. As pessoas estão priorizando viagens curtas de carro, e Campos acaba sendo um destino seguro para elas se distraírem um pouco, arejar a cabeça, ver o verde e respirar o ar puro, fazer uma refeição num restaurante”.

Tanto no Dona Chica quanto no Moringa, Oliveira reforça sobre a necessidade dos cuidados com os protocolos de segurança, para evitar o contágio pelo novo Coronavírus, seguindo todos rigidamente desde o uso de máscara e face shield pela equipe à toda a questão da higienização, mantendo o distanciamento social entre os frequentadores.

No Dona Chica, por exemplo, por estar dentro de um parque, no Horto Florestal, sem muros ou cercas, o empresário precisou bloquear as entradas laterais da casa, e restringir o número de clientes: “Estamos atendendo 88 pessoas no Dona Chica, bloqueamos as entradas para mantermos o controle das mesas com dois metros de distância”, descreve. “Também fazemos a desinfecção de todo o entorno com quaternário de amônio, assim como no acesso pela ponte, nos brinquedos infantis e nas redes de descanso”.

Restaurante Moringa Mantiqueira, Campos do Jordão. Foto: Divulgação

Sobre o Moringa Mantiqueira, Oliveira o descreve como um trabalho maravilhoso que tem, idealizado para ser a casa do produtor da Serra da Mantiqueira. “A ideia é valorizar o que há de melhor na Serra, dar o devido destaque a esses produtores, verdadeiros artesões da gastronomia. Assim, o Moringa é um restaurante com armazém, onde a gente consegue expor e vender todos esses produtos locais aos clientes, como vinho, cerveja, arroz azeite, gim cachaça.

Água de graça, na moringa

Oliveira explica que a moringa é um recipiente de barro, para conter água, e que escolheu esse objeto para batizar o restaurante pelo fato de ser um símbolo que reúne barro, água, fogo (para a queima do barro) e o ar contido nela, quatro elementos da terra. “Com a simbologia da moringa, trazemos algo que pertence à Serra da Mantiqueira, na moringa a gente fornece a água aos frequentadores do restaurante, não cobramos pela água, e todas as mesas temos moringa com água da serra, que oferecemos de graça para as pessoas”, destaca.

Ele também faz questão de lembrar que a Serra da Mantiqueira é um grande berço de águas, cujo nome vem de amantikir, que significa “a serra que chora”, baseado numa lenda tupi-guarani de uma índia que se apaixonou por um índio, mas virou uma montanha que chora até hoje por não poder viver seu amor. “É um dos maiores berços d’água do planeta, que dá vazão aos grandes afluentes, como Vale do Paraíba, região do Sapucaí-Mirim. São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte bebem a água da Mantiqueira, a nascente mais alta da bacia do Prata. Por ser um elemento vital e tão sagrado, não deveríamos nem comercializar a água. Por isso, a moringa com a água, oferecida de graça aos clientes, é um símbolo de gratidão à Serra da Mantiqueira”, conclui.

Fondue do La Gália

Fondue de Filé Mignon, do Delivery do La Gália, Campos do Jordão. Foto: Claudio Vitor Vaz

Não poderíamos encerrar esta matéria sem falar um pouco mais da fondue, iguaria tão famosa de Campos, ainda mais no Inverno: em uma das noites em que estávamos hospedados na pousada Tarundu, recebemos um delivery de fondue doce e salgada, do restaurante La Gália. O entregador também montou todos os apetrechos e deixou o rechaud de porcelana aceso, aquecendo a mistura de queijos para molhar as carnes e o pão. O rechaud de chocolate meio amargo estava pré-aquecido, ao lado de uma bandeja de frutas picadas (morangos, maçãs, kiwi, uvas). Na manhã do dia seguinte, o mesmo entregador foi recolher os acessórios.