‘Mamãe, olha quanta arte!’ – Masp com crianças*

Mostras paralelas Histórias das Mulheres – Histórias Feministas, Masp, São Paulo (Fotos: Carlota Cafiero)

A exclamação do título foi de Maria Paula diante de uma das salas expositivas do Museu de Arte de São Paulo, o Masp. A frase e o gesto dela de estender os braços em direção às obras são as lembranças mais gratificantes da nossa visita às mostras paralelas Histórias das Mulheres – Histórias Feministas, que ficou em cartaz entre 23 de agosto e 17 de novembro. Para mim, revelam a emoção de uma criança diante de uma experiência única, e a importância de nós, adultos, valorizarmos a primeira infância, aquela fase da vida que vai do zero aos 6 anos de idade.

Ainda hoje ainda escuto a opinião de que não vale a pena investir em viagens para crianças muito pequenas, pois elas pouco ou nada se lembrarão. Este pensamento está ultrapassado por estudos que comprovam a primeira infância como a fase mais importante na vida de uma pessoa, pois é quando se formam o caráter e a personalidade.

Crianças pequenas são como esponjas que absorvem tudo ao redor, e devolvem ao mundo reações espontâneas e puras. Assim, experiências que envolvem descoberta e emoção colam no fundo de suas mentes, ajudando a forjar paixões, medos, gostos ou traumas inexplicáveis.

Antes de iniciarmos a maratona artística pelo Masp, tomamos um lanche bem gostoso na cafeteria do museu, que fica perto da lojinha. Na exposição, fui observando as obras e as reações de Maria diante delas. Por exemplo: ao se aproximar de uma instalação com quase três metros de altura, da artista paulistana Mônica Ventura, minha filha começou a se jogar de um lado para outro, como na capoeira, interagindo espacialmente com a obra feita com dezenas de cabaças.

Diverti-me pensando que se eu me comportasse daquela maneira, seria vista com desconfiança pelos demais visitantes – o que me levou a concluir que os adultos são chatos porque perderam a capacidade de brincar.

A experiência de entrar num museu de arte com minha filha foi ainda mais incrível porque, pela primeira vez, o Masp reuniu somente artistas mulheres nas mostras Histórias das Mulheres: artistas até 1900, curada pro Julia Bryan-Wilson, Lilia Moritz Schwarcz e Mariana Leme; e Histórias Feministas: artistas depois de 2000, curada por Isabela Rjeille.

Eu, até os meus 44 anos de idade, nunca tinha visto algo parecido: duas grandes exposições, num dos museus mais importantes do País, só com artistas mulheres. Mas minha filha, com apenas 3 anos, teve oportunidade de ver as lutas e as histórias em torno do seu gênero e condição ali representadas.

Ela poderá nem se lembrar disso, mas crescerá com a certeza de que as mulheres contribuíram e contribuem para a sociedade e a história das artes, e “de que a mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos”, como versa o artigo primeiro da Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, redigido em Paris, em 1791, por Olympe de Gouges (pseudônimo de Marie Gouze), que está publicado no catálogo das duas exposições no Masp.

*texto publicado no jornal A Tribuna, em 1º de novembro